quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

QUARENTA ANOS - Mário de Andrade

A vida é para mim, está se vendo,
Uma felicidade sem repouso;
Eu nem sei mais se gozo, pois que o gozo
Só pode ser medido em se sofrendo.

Bem sei que tudo é engano, mas sabendo
Disso, persisto em me enganar... Eu ouso
Dizer que a vida foi o bem precioso
Que eu adorei. Foi um pecado... Horrendo

Seria, agora que a velhice avança,
Que me sinto completo e além da sorte,
Me agarrar a esta vida ferventida.

Vou fazer do meu fim minha esperança,
Oh, sono, vem!... Que eu quero amar a morte
Com o mesmo engano com que amei a vida.

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