quarta-feira, 26 de maio de 2010

Alguns breves poemas de Bertolt Brecht

                                                                                 Pintura de Don Coker
SOBRE A ESTERILIDADE
A árvore que não dá frutos
É xingada de estéril. Quem
Examina o sol?

O galho que quebra
É xingado de podre, mas
Não havia neve sobre ele?
PARA LER DE MANHÃ E À NOITE
Aquele que amo
Disse-me
Que precisa de mim.

Por isso
Cuido de mim
Olho meu caminho
E receio ser morta
Por uma só gota de chuva.
A MÁSCARA DO MAL
Em minha parede há uma escultura de madeira japonesa
Máscara de um demônio mau, coberta de esmalte dourado.
Compreensivo observo
As veias dilatadas da fronte, indicando
Como é cansativo ser mau.
O NASCIDO DEPOIS
Eu confesso: eu
Não tenho esperança.
Os cegos falam de uma saída. Eu
Vejo.
Após os erros terem sido usados
Como última companhia, à nossa frente
Senta-se o Nada.
E EU SEMPRE PENSEI
E eu sempre pensei: as mais simples palavras
Devem bastar. Quando eu disser como é
O coração de cada um ficará dilacerado.
Que sucumbirás se não te defenderes
Isso logo verás.
A FUMAÇA
A pequena casa entre árvores no lago.
Do telhado sobe fumaça
Sem ela
Quão tristes seriam
Casa, árvores e lago.
QUANDO NO QUARTO BRANCO DO HOSPITAL
Quando no quarto branco do hospital
Acordei certa manhã
E ouvi o melro, compreendi
Bem. Há algum tempo
Já não tinha medo da morte. Pois nada
Me poderá faltar
Se eu mesmo faltar. Então
Consegui me alegrar com
Todos os cantos dos melros depois de mim.

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