segunda-feira, 26 de julho de 2010

NO JARDIM - Dalton Trevisan


   O pálido rosto à sombra, uma lagartixa que comeu mosca, José cochila ao sol. Os copos-de-leite estão quietos como túmulos brancos. Que sede!
   Suor frio na testa, coça o queixo, puxa, é quase uma barba! A mãe surge à porta:
   - Quer entrar, meu filho?
   A vida escorre na ponta dos dedos. Um copo d'água, mãe. O cacto desfalece de calor.
   Com mais sede ele morre mais um pouquinho. Brincam as sombras ao pé do muro que nem canteiro de gatos.
   - Água, meu filho.
   Bebe até a última gota e pisca o olho esquerdo para a mãe, que lhe afaga o cabelo.
   - Está melhor?
   A cigarra anuncia o incêndio de uma rosa encarnada. Nuvens brancas enxugam no arame do quintal. E o filho dorme, uma lágrima suspensa dos olhos, sem rolar pelo bigodinho grisalho de lagartixa.

Um comentário:

  1. Não sei o que aconteceu,mas só lembrei de você quando li esse texto!

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