quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

POEMA CIRCENSE - José Paulo Paes


Atirei meu coração às areias do circo como se atira ao mar uma
âncora aflita. Ninguém bateu palmas. O trapezista sorriu,
o leão farejou-me desdenhosamente, o palhaço zombou
de minha sombra fatídica.

Só a pequena bailarina compreendeu. Em suas mãos de opala,
meu coração refletia as nuvens de outono, os jogos de
infância, as vozes populares.

Depois de muitas quedas, aprendi. Sei agora vestir, com
razoável destreza, os risos da hiena, a frágil polidez dos
dos elefantes, a elegância marinha dos corcéis.

Todavia, quando as luzes se apagam, readquiro antigos poderes
e voo. Voo para um mundo sem espelhos falsos, onde o sol
devolve a cada coisa a sombra natural e onde não há aplausos,
porque tudo é justo, porque tudo é bom.

4 comentários:

  1. José Paulo Paes é um poeta que precisa ter maior reconhecimento, tanto de crítica como de público. Um gênio não divulgado!

    ResponderExcluir
  2. muito bom mesmo n conhecia agora e a minha poeta preferida

    ResponderExcluir