terça-feira, 24 de julho de 2012

28 DE DEZEMBRO - Lygia Fagundes Telles


   Encontro com F. na livraria. Estranhou o título que vou dar a este livro, mas por que disciplina do amor? O amor lá tem disciplina? perguntou e deu a resposta: amor disciplinado nunca foi amor, pode ser método, arrumação no sentido de se botar tudo direitinho, cálculo, mas amor?! Pois amor não era ilogicidade? Transgressão?
   Digo-lhe que a indisciplina está só na aparência, na superfície. Na casca. Porque lá nas profundezas o amor é de uma ordem e de uma harmonia só comparável à abóbada celeste.
   Ele ficou me olhando. Arqueou as sobrancelhas surpreendido: "Mas então só conheci o amor superficial? Cada vez que amei  foi tanta a insatisfação e a insegurança. Fico em total desordem!"
   Desejei-lhe um amor verdadeiro e ele riu, desafiante. Quis saber se por acaso eu tinha atingido no amor essa plenitude celestial. Não respondi. Falamos sobre política, livros. Mas quando saí da livraria, me vi Adão  sendo expulso do Paraíso, o semblante descaído e o olhar no chão.


* Imagem: Heartfelt, de Nathan Sawaya, artista americano.

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