Quatro poetas estavam sentados em volta de uma jarra de vinho que se achava numa mesa.
Disse o primeiro poeta:
- Parece-me ver, com meu terceiro olho, a fragrância deste vinho pairando no espaço como uma nuvem de pássaros numa floresta encantada.
O segundo poeta ergueu a cabeça e disse:
- Com meu ouvido interno, posso ouvir esses pássaros de névoa cantando. E a melodia prende-me o coração como a rosa branca aprisiona a abelha dentro de suas pétalas.
O terceiro poeta fechou os olhos e estendeu o braço para o alto, e disse:
- Toco-o com minha mão. Sinto-lhe as asas, tal como o respirar de uma fada adormecida, roçarem nos meus dedos.
Então, o quarto poeta levantou-se e ergueu a jarra, e disse:
- Ai de mim, amigos! Sou muito obtuso de vista e de ouvido e de tato. Não posso ver a fragrância deste vinho, nem ouvir sua canção, nem sentir o bater de suas asas. Só percebo o próprio vinho.
E, levando o jarro aos lábios, bebeu o vinho até a última gota. Os três poetas, com as bocas abertas, olharam-no, estupefatos, e havia em seus olhos um ódio sedento, nada lírico.
(Do livro Parábolas - tradução e apresentação: Mansour Challita)
*Imagem: obra do pintor francês Louis Le Nain
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