terça-feira, 21 de setembro de 2010

ÁRVORES - Hermann Hesse


   As árvores sempre foram para mim os oradores mais convincentes. Eu as venero entre suas famílias e povos, as florestas e os bosques, mas, ainda mais as adoro quando estão a sós. Então são como os seres solitários, mas não como eremitas que por causa de alguma fraqueza se isolaram, mas como os grandes homens solitários: como Beethoven e Nietzsche. Em suas copas cicia o mundo, suas raízes jazem no infinito. Solitárias, elas não se perdem, senão com toda a força de seu ser procuram a única meta, preencher a sua própria lei desenvolvendo suas formas e se auto-representando. Não existe nada mais santo, mais exemplar do que uma bela e forte árvore. Quando uma árvore é cortada e seu ferimento mortal fica exposto ao sol, então é possível ler-se em seu toco, que ao mesmo tempo lhe serve como lápide, toda a sua história. (...) Quem sabe como falar-lhes, ouví-las, esse conhece a verdade. Elas não pregam ensinamentos e receitas, pregam isoladamente a primária lei da vida.
   Uma árvore diz: eu trago em mim uma luz, um pensamento, um âmago, pois eu sou a vida da vida eterna. (...) Vivo o segredo da minha semente até o fim, além disso nada mais me preocupa. Eu tenho a certeza de ter Deus em mim e que a minha missão é santa e dessa confiança vivo.
   Quando estamos tristes, sem mais nenhuma vontade de aturar a vida, então uma árvore pode falar conosco. Ela dirá: Calma, calma! Olhe-me! Viver não é fácil, mas nem tão difícil, pensamentos assim são criancice, cale, deixe que Deus fale em você. (...)
   Quem já aprendeu a ouvir uma árvore não deseja mais ser uma, não desejará ser nada mais do que é e isso é a pátria, a felicidade.
                                                  (Do livro Caminhada)

* Imagem: Olive Trees, de Vincent Van Gogh

3 comentários:

  1. Raul Lummertzoutubro 29, 2010

    Imagine uma folha caindo de um galho... De repente há a desfolha completa da árvore. Heis uma pseudo transformação a fim de propiciar a continuidade da vida.
    O texto de Hesse não apenas inibi, mas principalmente acalma quaisquer momentos de ira às suas necessárias mudanças internas, pelas quais vivenciar o conhecimento nos torna bons e perfeitos.

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  2. Realmente, Tel, Caminhada é um livro para se viver.

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