quarta-feira, 13 de outubro de 2010

AD INITIUM - Namibiano Ferreira *


O vento soprava pelo simples prazer de soprar...
...................................................................................
Era no tempo em que não tínhamos tribo.
Andávamos na nudez aurora do tempo
recolhendo bagas doces de vento e rocio
caçando e pescando o pão nosso quotidiano
no espreguiçar matinal de cada dia de sol
partilhando os bens e os alimentos e nada era meu
porque essa foi a última palavra a ser inventada.

Era o tempo em que dávamos o nome primeiro
a todas as coisas e cada nome era um poema maduro
de símbolos e perfumado de metáforas luzidias.
Era, na verdade, o tempo sem os fardos preocupados
das filogéneses e ontogéneses, sem conceitos e preconceitos.
Era o tempo em que andávamo nus pintando
símbolos e riscando gravuras sobre as paredes
pedra útero das cavernas pelo mágico prazer de criar
sem estéticas e as frias racionalidades
simplesmente pintar riscar poetar e nada mais...


Poeta angolano, ainda sem obra publicada. Texto e imagem extraídos de Ondjira Sul, um dos seus blogs.

                                                      Imagem: Desenhos tradicionais Tchokwé (Angola)

Um comentário: