Todos falam de mim. Dizem bobagens, inventam estórias. (Não digo palavra.)
Absorvidos pelos negócios
não chegam a imaginar, coitados,
como dói germinar, crescer, formar espigas. (Por isso não digo palavra.)
Pintores e poetas não me entendem
(detesto Van Gogh e Francis James).
Os pastores, sim, e os velhos cães
me compreendem
na mansidão em que vivo.
Com o mar, distante, não me envolvo:
sou filho da terra firme, do chão arejado
e paciente. É para mim que o sol
canta e se multiplica em tiras de ouro.
Amo as coisas simples. Só os pássaros
e os bichinhos do campo - só eles merecem o meu sangue.
Mas o homem
é que me busca,
me tritura, me ensaca, me vende.
No campo, sou livre: converso
as nuvens e o vento.
À mesa, corado, não digo palavra: alimento.
Imagem: Colheita do trigo, óleo sobre tela de Fernando Ikoma.
Nossa, maravilhoso poema!Adorei a sintonia com a imagem.
ResponderExcluirBeijos
Maravilhoso poema,eu não o conhecia!
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