segunda-feira, 11 de julho de 2011

Algumas palavras de Jorge Luís Borges


  • Um livro não deve exigir esforço; a felicidade não deve exigir esforço.
  • Emerson disse que um livro, quando está fechado, é uma coisa entre as coisas. Mas quando seu leitor o abre, então ocorre o fato estético, e esse fato estético pode não ser ou não deve ser exatamente o que o autor sentiu, mas algo novo, isto é, cada leitor é um criador - um colaborador, em todo caso, do texto. E os textos são, sobretudo, diferentes, não pelo modo como estão escritos, mas pelo modo como são lidos.
  • O êxtase de escrever não se mede pelas virtudes ou fraquezas da escritura. Toda obra humana é perecível, afirma Carlyle, mas sua execução não o é.
  • Fala-se do desaparecimento, ou da extinção do livro. Creio que isto é impossível. Dir-se-á: que diferença pode haver entre um livro e um jornal ou um disco? A diferença é que um jornal é lido para ser esquecido; um disco é ouvido, igualmente, para ser esquecido - é algo mecânico e, portanto, frívolo. O livro é lido para eternizar a memória.
  • Dos diversos instrumentos utilizados pelo homem, o mais espetacular é, sem dúvida, o livro. Os demais são extensões de seu corpo. O microscópio, o telescópio são extensões de sua visão; o telefone é a extensão de sua voz; em seguida, temos o arado e a espada, extensões de seu braço. O livro, porém, é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação.
  • Não apenas o escritor, mas todo homem deve se lembrar de que os fatos da vida são um instrumento. Todas as coisas que lhe são dadas têm um sentido, ainda mais no caso do artista: tudo o que lhe acontece - inclusive humilhações, mágoas e infortúnios - funciona como argila, como material que deve ser aproveitado para sua arte. Lembrei isso num poema, onde falo do antigo alimento dos heróis: a humilhação, a infelicidade, a contradição. Essas coisas nos foram dadas para serem transformadas: fazer com que  as circunstâncias miseráveis de nossa vida se tornem coisas eternas ou em vias de eternidade.
  • Quando São Paulo disse "morro a cada dia", não era esta uma expressão patética. A verdade é que morremos a cada dia e nascemos a cada dia. Estamos permanentemente nascendo e morrendo. Por isso o problema do tempo nos afeta mais que os outros problemas metafísicos. Porque os outros são abstratos. O do tempo é nosso problema. Quem sou eu? Quem é cada um de nós? Quem somos? Talvez o saibamos algum dia. Talvez, não. Nesse meio tempo, entretanto, como dizia Santo Agostinho, minha alma arde, porque quero saber.

3 comentários:

  1. Muito bom lembrar Borges.
    Estou lendo O Aleph.
    Beijos

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  2. Sempre um prazer receber sua visita, Piedade!
    Bjs

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  3. Não apenas eternas, mas pelas ,mãos do artista, essas coisas de que fala Borges, podem até ser belas. Tal é o poder transformador da arte. Mas se o singular fato de tais coisas, dadas ao público pela mão do artista, causarem principalmente, incômodo, reflexão, terá a arte então cumprido o seu papel.

    George Paez

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