quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A BUNDA, QUE ENGRAÇADA - Carlos Drummond de Andrade


A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.

Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora - murmura a bunda - esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.

A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda,
redunda.


(Do livro Os cem melhores poemas brasileiros do século, seleção de Ítalo Moriconi)

Um comentário:

  1. Que imagens maravilhosas vc tem por aqui!
    E que lindos textos!
    Parabéns! Boa semana!
    Bjos da Bruh! =*

    ResponderExcluir