segunda-feira, 12 de março de 2012

Um pequeno texto de Rubem Braga


   Em nossa última conversa, dizia-me o grande amigo que não esperava viver muito tempo, por ser um "cardisplicente".
   - O quê?
   - Cardisplicente. Aquele que desdenha do próprio coração.
   Entre um copo e outro de cerveja, fui ao dicionário.
   - "Cardisplicente" não existe, você inventou - triunfei.
   - Mas se eu inventei, como é que não existe? - espantou-se o meu amigo.
   Semanas depois o enterramos, em saudades fundas, companheiros, parentes e bem-amadas. Homens de bom coração não deveriam ser cardisplicentes.

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