sábado, 22 de setembro de 2012

O VENTO - Mário Quintana


   O único da casa que enxerga o vento é o cachorro. Detém-se à porta da cozinha, rosnando para o pátio ventado, cheio de latas inquietas e papéis decididamente malucos.
   E nos seus olhos fixos e rancorosos vê-se o desvario do vento, a incurabilidade do vento, os seus cabelos em corrupio, os seus braços que parecem mil, os seus trapos flutuantes de espantalho, toda aquela agitação sem causa e que é ainda menos instável, no entretanto, que a terrível desordem de sua cabeça: pois o vento nunca pode assentar suas ideias...

Nenhum comentário:

Postar um comentário