sábado, 17 de novembro de 2012

A CÉU ABERTO - Juan José Saer


   Dessas costas vazias me restou, sobretudo, a abundância de céu. Mais de uma vez me senti diminuído sob esse céu dilatado: na praia amarela, éramos como formigas no centro de um deserto. E se, agora que sou velho, passo meus dias nas cidades, é porque nelas a vida é horizontal, porque as cidades dissimulam o céu. Lá, de noite, ao contrário, dormíamos a céu aberto, quase achatados pelas estrelas. Estavam como ao alcance da mão e eram grandes, inumeráveis, sem muito negrume entre uma e outra, quase faiscantes, como se o céu tivesse sido a parede perfurada de um vulcão em atividade, que deixasse entrever, por seus orifícios, a incandescência interna.


*Da obra O enteado.

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