terça-feira, 25 de dezembro de 2012

A CLANDESTINA - Lêdo Ivo


- Quem é esta clandestina
que dentro de mim viaja

e de mim não se separa
mesmo quando estou dormindo

e aparece nos meus sonhos
breve e leve como a neve?

Quem é esta clandestina
doce e branca e feminina

que me segue quando saio
sombra em mim dissimulada

e torna a voltar comigo
colada ao cair da tarde?

Quem é esta clandestina
que de mim não desembarca?

Sou seu trem ou seu navio?
Seu barco ou seu avião?


E sua voz me responde:
- És meu berço e meu jazigo.

Antes mesmo de nasceres
eu já estava contigo.

E sempre estarei em ti
até o fim da viagem.



* Imagem: Wreckage, de Ramson and Mitchel.




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