sábado, 26 de janeiro de 2013

A EVIDÊNCIA - Millôr Fernandes


   Ainda que pasmem os leitores, ainda que não acreditem e passem, doravante, a chamar este escritor de mentiroso e fátuo, a verdade é que, certo dia que não adianta precisar, entraram num restaurante de luxo, que não me interessa dizer qual seja, um ratinho gordo e catita e um enorme tigre de olhar estriado e grandes bigodes ferozes. Entraram e, como sucede nas histórias deste tipo, ninguém se espantou, muito menos o garçom do restaurante. Era apenas mais um par de fregueses. 
   Entrados os dois, ratinho e tigre, escolheram uma mesa e se sentaram. O graçom andou de lá pra cá e de cá pra lá, como fazem todos os garçons durante meia hora, na preliminar de atender fregueses, mas, afinal, atendeu-os, já que não lhe restava outra possibilidade, pois, por mais que faça um garçom, acaba mesmo tendo que atender os fregueses. Chegou, pois, o garçom e perguntou ao ratinho o que desejava comer. Disse o ratinho, numa segurança de conhecedor: "Primeiro você me traga Rochefort au Blinnis. Depois, Coeur de Baratta, Filet Rotis à la broche, pommes Dauphine. Em seguida, Medallion Lagartiche, foie gras de Strasbourg. E, como sobremesa, me traga um Parfait de Biscuit Estraguée avec Cerises Jubilée. Café. Beberei, durante o jantar, um Laffite Porcherrie Rotschild 1934".
   - Muito bem - disse o garçom. E, dirigindo-se ao tigre: - E o senhor, o que vai querer?
   - Ele não quer nada - disse o ratinho.
   - Nada? - tornou o garçom. - Não tem apetite?
   - Apetite? Que apetite? - rosnou o ratinho, enraivecido. - Deixa de ser idiota, seu idiota! Então você acha que se ele estivesse com fome eu ia andar ao lado dele?
   MORAL DA HISTÓRIA: É necessário manter a lógica, mesmo na fantasia.

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