quarta-feira, 19 de maio de 2010

O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS - Mário Pinto de Andrade


Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.
'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos.'
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.
O essencial faz a vida valer a pena.
E,  para mim,  basta o essencial!


Obrigada, Bernardo (blog Momentos de Reflexão), 
por apresentar-me a este poema do escritor angolano.

3 comentários:

  1. Olá Telma

    Agora cheguei aqui. Parabens pelos textos e poemas, excelentes todos... gostei particularmente de "O Duplo" do Afonso Sant'ana. Esse Quintana que é seguidor de seu blog não é o meu. Mas agora passo a ser com muito gosto.
    Um abraço
    Bernardo

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  2. Este texto deveria ser uma lição ensinada desde o jardim de infância. COmo uma disciplina, já imaginou? Entre as matemáticas e ciências da vida, uma que se chamasse A Lição das Cerejas.
    Quem sabe as pessoas não degustariam melhor seus frutos, antes que estivessem quase no fim?
    Beijos, Telma! Lindo texto...

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  3. Isabelle Vossjulho 25, 2010

    muito legal...adorei

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