terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

ESPELHO - Sylvia Plath


Sou de prata e exato. Não faço pré-julgamentos.
O que vejo engulo de imediato.
Tal como é, sem me embaçar de amor ou desgosto.
Não sou cruel, simplesmente verídico - 
O olho de um pequeno deus, de quatro cantos.
Reflito todo o tempo sobre a parede em frente.
É rosa, manchada. Fitei-a tanto
Que a sinto parte do meu coração. Mas cede.
Faces e escuridão insistem em separar-nos.

Agora eu sou um lago. Uma mulher se encosta a mim,
Buscando na minha posse o que realmente é.
Mas logo se volta para aqueles farsantes, o  brilho e a lua.
Vejo as suas costas e reflito-as na íntegra.
Ela paga-me em choro e em agitação de mãos.
Eu sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã a sua face alterna com a escuridão.
Em mim se afogou uma menina, e em mim uma velha
Salta sobre ela dia após dia como um peixe horrível.


                                    * Imagem: Mulher ao espelho, de Picasso

Um comentário:

  1. haha!Janilce também é cultura, tá meu bem?kkkkkkkk. Deixando a brincadeira de lado. Depois de tantos textos, autores e filmes que você me apresentou, fiquei muito feliz por te presentear algo novo e profundo!

    ResponderExcluir