sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Mais três poemas de Martha Medeiros


foram tantas noites de insônia
roubando os poucos anos que tinha
perdi a conta dos prantos
contei carneiros e os dias
e os dias nunca passavam
ou passavam e eu não via
ficava um aperto no peito
nem tudo entendia como era
mas que era bonito eu sabia

***

tristeza é quando chove
quando está calor demais
quando o corpo dói
e os olhos pesam
tristeza é quando se dorme pouco
quando a voz sai fraca
quando as palavras cessam
e o corpo desobedece
tristeza é quando não se acha graça
quando não se sente fome
quando qualquer bobagem
nos faz chorar
tristeza é quando parece
que não vai acabar

***

não espero de você o que já me foi dado
nem você conseguiria porque não é assim
tudo tão cronometrado

eu não espero que você me proteja
depois de todos os medos que eu disse não ter
você não teria como saber

não espero de você um abraço
que já foi desfeito faz tempo
você não faz ideia quanto

eu não espero de você
nem mais um dia de lamento
ne um momento como a gente já teve

seja breve, não me escreva
se sobrar algum afeto
seja discreto e me esqueça

(Do livro Poesia Reunida, de Martha Medeiros)

* Imagem: Obra do artista sueco Ola Billgren.

Um comentário:

  1. Oi, Telma, muito obrigada pelo carinho! É uma alegria vir aqui.

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